terça-feira, 30 de junho de 2015

Trajetórias de indivíduos e coletivos Guarani no Rio Grande do Sul e os encontros e desencontros em sua relação com o Estado.

Contribuições da tese "Caminhos para viver o Mbya Reko: estudo antropológico do contato interétnico e de políticas públicas de etnodesenvolvimento a partir de pesquisa etnográfica junto a coletivos Guarani no Rio Grande do Sul", de Mariana de Andrade Soares, para a compreensão de desafios contemporâneos dos coletivos Guarani.


A tese apresentada por Mariana de Andrade Soares[1] é fruto das experiências da autora, no papel de estudante, profissional e pesquisadora, a partir de suas relações com os coletivos Guarani no Rio Grande do Sul. O objetivo geral desse trabalho, segundo a mesma, é fazer uma reflexão antropológica sobre os encontros e desencontros na relação desses coletivos com o Estado, suas respectivas instituições e políticas públicas de etnodesenvolvimento.
No capítulo primeiro, a autora apresenta a sua trajetória acadêmica e profissional junto aos guaranis do Rio Grande do Sul. O contato com os Guaranis já se deu no início de sua graduação em História (1995-98), apesar de naquela época o interesse da autora estivesse mais voltado aos vestígios do passado do que às condições de vida daqueles indígenas.  Em 1997, ela participou, como bolsista de iniciação científica, no levantamento documental sobre o processo histórico da TI Borboleta – Terra Indígena reivindicada pelas famílias “Kaingang da Borboleta”.  A partir dessa pesquisa a autora foi nomeada para compor o Grupo Técnico responsável pela Perícia Antropológica de Identificação e Delimitação dessa Terra Indígena. No ano 2000, a autora participou do Diagnóstico Socioantropológico e Participativo da Manifestação do Alcoolismo entre Populações Indígenas  no Estado do Rio Grande do Sul, o que possibilitou sua inserção etnográfica junto aos coletivos Mbya. Em 2002, ingressou no cargo de antropólogo (a) da EMATER/RS-ASCAR (Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural - Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural).
A autora afirma que o ofício “antropóloga da ação”, envolvida diretamente com o tema desenvolvimento e coletivos indígenas no Rio Grande do Sul, garantiu a ela um lugar privilegiado e a oportunidade de estabelecer relações com diversos atores sociais (índios e não-índios), o que forneceu subsídios fundamentais para a realização da pesquisa.
Ainda no capítulo primeiro, a autora descreve sua tese utilizando como metáfora o caminho que envolve as trajetórias de indivíduos e coletivos Guarani. A autora aponta que existe uma vasta literatura que busca explicar o sentido do caminhar dos Guarani. Com a obra de Curt Nimuendaju, os movimentos desses povos passam a ser explicado do ponto de vista da sua religião, como um complexo profético-migratório, relacionado ao mito da “busca da terra sem mal”. Entretanto, pesquisas, a partir dos anos 90, passaram a indicar que os deslocamentos dos Guarani são mais uma busca no sentido ecológico e econômico, do que no sentido religioso. A etnologia contemporânea tem focado sua análise no ethos caminhante Guarani, na importância do seu caminhar. Esse caminhar diz respeito, mais do que achar um lugar definitivo ideal para a prática do seu modo tradicional, se busca sempre este modo melhor, em espaços alternativos ao atual.
No que diz respeito a metodologia da pesquisa, a autora desenvolve sua tese a partir de uma análise que leva em conta a macro esfera (relações da sociedade ocidental contemporânea -global- e os coletivos Guarani - local-), a meso esfera (relações sociais permeadas pelas ações do Estado) e micro esfera (pesquisa etnográfica realizada na Tekoa Porã).
O centro do universo da pesquisa esteve nos coletivos Guarani que vivem na Tekoa Porã, localizada no município do Salto do Jacuí, na bacia hidrográfica do Alto Jacuí, Rio Grande do Sul. O rio Jacuí é caracterizado por sua descida aos saltos. Essa característica possibilitou a construção de cinco Usinas Hidrelétricas, sendo que algumas delas afetaram diretamente o território tradicional Guarani. A ocupação tradicional dos Mbya do Salto do Jacuí passou por processo de territorização (os Guarani permaneceram no local e circularam pelo Estado desde o fim do século XIX até a década de 50), desterritorialização (com a construção da Barragem Maia Filho nos anos 50) e reterritorialização (com o reflorestamento de espécies exóticas numa área destinada pela CEE - Companhia Estadual de Energia Elétrica - para a proteção ambiental). Na época de sua delimitação a Aldeia do Salto do Jacuí (denominada pelos Guarani de Tekoa Porã) era formada apenas por uma família extensa. Por meio de decreto, em 1996 ela se torna uma TI.
A autora então traz a descrição de personagens que fazem parte da história da Tekoa Porã. João de Oliveira (Juancito) é uma das figuras centrais. Ele saiu Argentina por seu descontentamento com as políticas indigenista de seu país e com as intervenções de projetos de desenvolvimento. Ara Miri, cunhada de Juancito o acompanhou na trajetória da Argentina até o Brasil. A partir de 1997 se deu o deslocamento de mais famílias Guarani motivados pelo deslocamento de Karai Iapuá (Luiz Natalício).
A etnografia abrangeu o período de agosto de 2009 até novembro de 2011, mas não de forma continua, sendo intercalada por outras atividades da autora. Isto, segundo ela, permitiu a organização e reflexão sobre os dados coletados no campo. Durante seu convívio com os Mbya, ela relata que buscou aprender a língua guarani, mas não conseguiu desenvolver a linguagem suficientemente para garantir um diálogo. Entretanto ela contou com a ajuda de alguém entre os Guarani que se dispunha a fazer a interlocução.
O conceito de etnodesenvolvimento é problematizado no texto da autora. Este conceito surgiu em contraposição crítica e alternativa às teorias e ações desenvolvimentistas e etnocidas, que tomavam as sociedades indígenas e as comunidades tradicionais como obstáculos à modernização e ao progresso. O termo relaciona o desenvolvimento sustentável ao respeito às identidades étnicas. O problema que se apresenta é qual termo utilizar para se referir ao desenvolvimento Guarani, uma vez que essa noção sempre estará associada ao modelo desenvolvimentista da sociedade ocidental contemporânea. O processo de desenvolvimento atravessa as práticas culturais com o modelo próprio que os coletivos guarani estabelecem com a natureza (e sobrenatureza) até as discussões sobre qual visão de desenvolvimento se quer construir. Isso passa pela própria ideia de um contra-desenvolvimento.
Mesmo que de forma diversa, lideranças Guarani articulam aliados em prol dos direitos indígenas, entretanto, as terras já ocupadas pelos coletivos Guarani são inadequadas para a existência da mata verdadeira, que lhe permite o estabelecimento de relações com diversos seres que compõem o cosmos, sendo necessária a busca para o melhor bem viver, sendo uma das vias, a sua relação com o Estado. Entretanto existem entraves nessa relação, com a presença de conflitos internos e externos aos coletivos.
O capítulo seis descreverá algumas relações de conflito dentro da Tekoa Porã que envolve as divergências sobre a ideia de desenvolvimento. A autora aponta que a com-vivência (estar junto) dentro de um mesmo território, passa pela busca em si dessa reciprocidade e do consenso interno. Essa questão se torna ainda mais evidente quando está em jogo a construção de um projeto de comunidade e/ou que contemple a heterogeneidade desse “coletivo”. As trajetórias revelam vivências do Mbya reko, ou a busca pela sua realização, como forma do bem estar, daquilo que pode ser traduzido como desenvolvimento Guarani.
A literatura etnológica apontou historicamente que em termos da dispersão geográfica dos Mbya, cada família extensa ocuparia um determinado lugar, sendo representada por uma figura masculina como liderança política. Entretanto, estudos contemporâneos indicam que a existência de coabitação de uma ou mais famílias extensas ampliadas numa mesma tekoa é constantemente submetida a processos de estruturação e desestruturação, devido ao dinamismo e a mobilidade dos grupos e/ou pessoas que a integram. Esse foi o caso da Tekoa Porã. Com a morte de Juancito, foram sendo desveladas as redes societárias que compunham a Tekoa na figura de Ara Miri reveguá kuéry (cunhada do antigo líder Juancito) e Karai Iapuá reveguá kuéry.
O compartilhamento do ritual na Opy se dava entre os Guarani da mesma rede societária (kuéry). A existência de duas casas de rezas na mesma aldeia foi um dos motivos que ocasionou uma série de conflitos na Tekoa Porã. Além disso, havia certo ressentimento e instabilidade na Tekoa Ara Miri não considerava legítima a atuação de Karai Iapuá como líder – de fato, há uma instabilidade constante na liderança política Guarani pelo caráter fluído e móvel dessa posição, pois todo chefe de família é um líder em potencial. Ara Miri não o aceitava como líder por dois motivos principais: primeiro, pela reivindicação na anterioridade de ocupação da área e sucessão do cacicado pelo parentesco com Juancito sendo, por diversas situações, expressa por Jorge Gimenez (neto de Ara Miri, que não assumiu o cargo por problemas com o alcoolismo) e, segundo, pela própria postura de Karai Iapuá na distribuição de recursos. Isso de fato é um problema para os coletivos indígenas, uma vez que, um líder politico, além do dom da oratória, constrói seu prestigio social, a partir da sua capacidade de acumulação e distribuição.
A autora registra outras situações que trouxeram controvérsias para a Tekoa Porã, como o corte de eucaliptos e o destino do dinheiro da venda dos mesmos e a exploração da área para o turismo. “Se por um lado, para alguns Guarani o corte de eucaliptos era necessário para a obtenção de dinheiro e/ou melhoria nas suas condições de moradia, para outros, por outro lado, era uma forma de plantar espécies vegetais importantes dentro da sua cosmo-ecologia ou ter novas áreas para a prática do seu sistema tradicional de agricultura, fundamental para a manutenção das sementes deixadas pelas suas divindades e o preparo dos seus alimentos tradicionais. O mesmo pode ser dito para os objetos de artesanato e turismo dentro da área indígena, temas preconizados pelas próprias políticas públicas, por conciliar economia (geração de renda), ambiente (conservação) e cultura (preservação e valorização da cultura indígena).
A autora finaliza a tese afirmando que a nova relação entre o Estado e a sociedade brasileira e os indígenas, a partir da constituição de 1988, tem exigido a readequação da prática indigenista. A passagem de uma gestão tutelar para um modelo que prega autonomia dos indígenas traz à discussão o próprio entendimento do que seja desenvolvimento, o papel do Estado (tendo em vista contemplar a diversidade cultural e as formas de organização dos coletivos indígenas) e o papel dos indígenas (na ocupação de seu lugar como ser político e ético, o elo entre o interno e o externo).


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

SOARES, Mariana de Andrade. Caminhos Para Viver O Mbya Reko: Estudo Antropológico Do Contato Interétnico E De Políticas Públicas De Etnodesenvolvimento a Partir De Pesquisa Etnográfica Junto a Coletivos Guarani No Rio Grande Do Sul. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2012.



[1]Possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998), mestrado (2001) e doutorado (2012) em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desde 2002 é antropóloga da instituição oficial de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) no Rio Grande do Sul, exercendo a Coordenação Estadual de ATER nos coletivos Guarani, Kaingang e Charrua, bem como, comunidades remanescentes de quilombos. Tem atuado principalmente nos seguintes temas: Etnologia Indígena, Políticas Públicas e Desenvolvimento”.  Informações coletadas do Lattes. Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4775713T6>. Acesso em 27jun2015.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Dialogicidade cultural indígena:

Reflexão sobre a tese de doutoradoTata endy rekoe – Fogo Sagrado: Encontros entre os Guarani, a ayahuasca e o Caminho Vermelho”, de Isabel Santana de Rose.

Parece impossível evitar a reflexão sobre as culturas indígenas e seu diálogo com a cultura do “homem branco” e outras culturas indígenas. Se levarmos em conta que o conceito de cultura é plural e mutável, então teremos de realizar o esforço da compreensão do diálogo cultural entre indígenas de culturas diversas e não-indígenas.
A tese de Rose (2010) compreende a apropriação pelos habitantes da aldeia Yynn Morothi Wherá, indígenas guarani mbyá residentes no município de Biguaçu – SC, dos rituais sagrados da ayahuasca no período que compreende os anos de 1999 e 2010.
Tratando-se o uso da ayahuasca (plantas de propriedades enteógenas que propiciam o encontro do ser humano com o divino) de uma tradição entre diversas etnias indígenas amazônicas, soa importante frisar que o contato da aldeia Yynn Morothi Wherá se dá através do contato com um médico não-indígena que, chamado para tratar de um paciente indígena da referia aldeia ― que neste momento se recusava aos tratamentos medicinais usuais ―, sugere a utilização do chá amazônico como forma de tratamento. A partir deste primeiro contato e com o posterior diálogo entre indígenas dos povos guarani mbyá de Santa Catarina e as comunidades espirituais Fogo Sagrado de Itzachilatlan e comunidade do Santo Daime Céu do Patriarca São José, de Florianópolis – SC.
Este contato com os grupos que fazem uso da ayahuasca, indígenas e não-indígenas, proporciona um contato cultural para além da espiritualidade: o intercâmbio cultural se demonstrará benéfico e riquíssimo para todas as culturas em diálogo, uma vez que se colocam em contato, além dos indígenas guaranis, também “indígenas kaxinawa da Amazônia brasileira, taitas e xamãs Shuar do Equador e sangomas sul-africanos (ROSE, p.15). Este diálogo é visível no Encontro de Medicinas, reunião intercultural onde são realizados rituais de ayahuasca ― de acordo com cada uma das culturas envolvidas e suas peculiaridades ―, e onde ocorrem trocas de informações sobre uso de outras plantas e rituais espirituais e de cura.
Outros intercâmbios podem ser reconhecidos após o contato dos guaranis com os daimistas. A temazcal, por exemplo, uma sauna onde são dispostas pedras quentes e ervas aromáticas, tem origem andina e hoje já existe uma temazcal na aldeia guarani mbyá. Da mesma forma, a ordem do ritual do consumo de ayahuasca toma proporções diversas em Biguaçu, pois ao contrário de acontecer em volta do fogo e ao ar livre, como em outras culturas, ali seu consumo se dá dentro da opy, ou casa de rezas.
Este diálogo intercultural pode ser percebido já nas origens do Santo Daime, religião sincrética que envolve, em torno do consumo da ayahuasca, tanto a religiosidade de povos indígenas amazônicos, como também do “catolicismo popular, integrando elementos de diferentes tradições espirituais, tais como o espiritismo kardecista, cultos afro-brasileiros, o esoterismo europeu, o vegetalismo amazônico”. (ROSE, p. 99).
A autora descreve muito bem como o contato dos indígenas guarani de Biguaçu com as comunidades daimistas influencia culturalmente a aldeia, uma vez que “os diálogos e negociações entre estes diferentes grupos e atores vem dando lugar a uma intensa circulação de pessoas, substâncias, imagens, idéias, rituais e estéticas”. (ROSE, p.12) Esta aproximação e todas as trocas dela decorrentes não haveriam ou aconteceriam de maneira muito mais lenta não fosse a apropriação que os guarani fazem da ritualística da ayahuasca, indo além de meros consumidores da substância.
Neste sentido, vale ressaltar que os diálogos interculturais proporcionados pelo consumo da ayahuasca pelos indígenas guaranis mbyá da aldeia Yynn Morothi Wherá com outros povos e outras culturas permitiu, para além da troca de conhecimentos, também a renovação cultural do próprio povo de Biguaçu, pois a explicação que dão para a apropriação de ritualística xamânica advém de um consumo ancestral por seus ancestrais.
Da mesma forma, a apropriação dialógica faz com que os guaranis não somente tomem posse de rituais, como também contribuam com seus conhecimentos ancestrais e culturais para o feitio da ayahuasca e para os ritos que acontecem em torno do consumo do chá, de tal modo que nos cantos rituais, já se encontram palavras no idioma guarani, quéchua, de povos amazônicos, demonstrando que o diálogo existe para além do mero contato, chegando até a linguagem e à ritualística.
Percebe-se, neste contexto, que as culturas indígena e não-indígena não podem ser percebidas como estáticas e que, embora o contato da aldeia Yynn Morothi Wherá com a comunidade daimista de Santa Catarina tenha se dado como que acidentalmente, ela criou um vínculo entre culturas e povos que para além de não cessar, ainda proporciona um diálogo intercultural riquíssimo para todas as comunidades envolvidas em torno do consumo da ayahuasca.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ROSE, Isabel S. Tata endy rekoe – Fogo Sagrado: Encontros entre os Guarani, a Ayahuasca e o Caminho Vermelho. 2010. 435 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2010.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

FELIZ ANO NOVO ANDINO AMAZÔNICO 5523!

FELIZ ANO NOVO ANDINO AMAZÔNICO 5523!
♥♥♥

“Estamos celebrando el Año Nuevo Andino, con alegría para armonizar nuestro espíritu personal con el cosmos, estamos asistiendo a la salida del sol para vivir de su energía y fortalecer la unión”

El 21 de junio es un día especial en Bolivia, con un feriado de por medio, el país paraliza actividades públicas y privadas para celebrar la llegada del "Año Nuevo Aymara" ahora considerado como Año nuevo Andino Amazónico, festividad también conocida como el "Willkakuti" o "Retorno del Sol".

El año 2010 el presidente Evo Morales dijo "Quiero aclarar a ustedes, al pueblo boliviano y al mundo entero, el 21 de junio no es Año Nuevo Aymara, sino es Año Nuevo Andino Amazónico".
Si bien el acto central está centrado en Tiwanaku, donde se encuentra la Puerta del Sol, habrá también celebraciones en Jesús de Machaca, Caracollo, El Alto, Konko, Wuankané, Chiripa, Charazani, Copacabana, Pasto Grande y Yaco. Todas en La Paz.

También se celebra en otros lugares considerados sagrados (wak’as o apachetas), la isla del sol en el lago Titicaca, las ruinas de Samaipata, Incallajta entre otros.
Año nuevo Andino Amazónico

Los Pueblos andinos, amazónicos, guaranis, kollas, mapuches entre otras culturas, conmemoran el 21 de junio el nuevo año, MACHAQ MARA (en Aymara) MOSOQ WATA (en Quechua), celebrar significa renovar un compromiso de continuar criando a los ecosistemas que conviven gracias a la benevolencia de la Pachamama y al Inti Tata a quienes se les ofrenda la sagrada coca, sebos de llama y alcohol para la challa como símbolo de reverencia.

La celebración está ligado a una referencia astronómica que es el solsticio, fuente de energía y renovación espiritual, y se registra como fenómeno natural entre el 20 de junio y el 23 de junio en el hemisferio sur y da inicio a un nuevo ciclo agrícola, se trata de un calendario luni-solar, ya que está regido por la fase de la Luna y el recorrido de la Tierra alrededor del Sol. A partir del 22 de junio se empieza a contar los 13 meses, cada uno de 28 días, contándose 364 días del nuevo año, el 21 de junio es el día 365, que se dedica exclusivamente a la fiesta del año nuevo y da inicio al invierno en el sur del planeta Tierra, siendo este día el que tienen la noche más larga y el día más corto.

Dentro del calendario andino y del hemisferio sur, existen dos solsticios, el de invierno y el de verano. La celebración del mara t’aqa corresponde al de invierno, donde la altura, la helada y el movimiento del sol condensan su máxima expresión y significación en los andes y el hemisferio sur, periodo del juyphi-pacha, en la que la helada al llegar a su máxima expresión.

Cabe destacar, que el cálculo poco ortodoxo del año 5 mil 523 surge de la suma de los cinco ciclos (cada uno de mil años) de historia social de los pueblos originarios hasta el inicio de la conquista española en 1492.
Para la población creyente de los saberes andinos, el 21 de junio es el día cero en el calendario aymara y permite a todos a limpiarse de las cosas malas, de actitudes negativas, y con las nuevas energías adoptar nuevos hábitos de vida que alimenten el espíritu.

La llegada del nuevo año nuevo aymara simboliza el retorno del sol y la recepción de nuevas energía cósmicas.

La Cosmovisión Andina, es la relación del ser humano o runa con todo lo que le rodea en forma material e inmaterial, a partir del origen y durante la evolución de todo. No es excluyente, todos evolucionan y cumplen una función permanentemente; La Cosmovisión Andina tiene como base la “Unidad” entre (cosmos, la naturaleza y la familia), Los Símbolos Sagrados de esta cultura, son los guías indispensables en nuestra evolución. Indican una vida bien organizada al servicio de los otros, y no de uno mismo ni de sus intereses particulares. Es la “Unidad”.

Las personas cambiamos y la sabiduría andina no cambia ni cambiará, se ha mantenido al margen sin ser afectado en absoluto. Esta Cosmovisión Andina se explica de la forma más objetiva posible desde el punto de vista psíquico y mental evolutivo, ya que no se puede separar la Unidad.

Vivir la Cosmovisión Andina es vivir una vida equilibrada y Humana. Todo daño que se haga a cualquier ser, detiene la evolución. Esta evolución queda grabada en nuestra conciencia, al igual que todos nuestros actos; por ello, nosotros mismos somos los responsables y jueces de nuestros hechos cuando pasamos de un plano a otro.