terça-feira, 7 de julho de 2015

M`Byá-Guarani – Alimentação e Identidade no Território: A Aldeia V`ya – Major Gercino/SC



Gabriel, V.A, 2014. M’Byá-Guarani- Alimentação e Identidade no Território: A Aldeia V’ya – Major Gercino(SC). Dissertação de Mestrado. Universidade Regional de Blumenau- FURB- Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional. Blumenau. Santa Catarina. Brasil.

Neste trabalho, a autora fez uma pesquisa junto à aldeia V’ya, para entender melhor dois importantes momentos vividos por esta tribo, o primeiro deles foi num momento vivido em um território que não lhes proporcionava território próprio para o plantio e ou criação dos seus alimentos, pois estavam inseridos em uma outra aldeia no Morro dos Cavalos, e devido ao declive não conseguiam cultivar nada.
Num segundo momento, após a mudança para a aldeia V’ya ( Aldeia Feliz), na cidade de Major Gercino/SC, onde possuem um vasto território, com condições de plantio e cultivo de seus alimentos naturais, além de caça e pesca, o que lhes proporcionou a reconstrução de seu sistema alimentar, ou o “ viver do mato”, baseado nas memórias de seus habitantes mais idosos, e principalmente de como suas mulheres se organizam em torno da alimentação, já que são as responsáveis pela produção dos alimentos para a tribo, e que também podem ajudar no plantio dos mesmos.

Essa pesquisa teve como objetivo geral a alimentação dos Mbyá-Guarani, tudo o que ocorreu de mudança e o que permanece até os dias de hoje em sua alimentação e tradições de práticas alimentares, para isso a autora utilizou-se de uma abordagem etnográfica com pesquisa de campo e várias técnicas de pesquisa como o uso de entrevistas, notícias de jornais, observações, mapas, registros feitos pelo próprio grupo, fotografias, vídeos, exame de documentos que digam respeito ao grupo, com investigação sobre história de vida e história oral do grupo, cruzando-se os resultados dos dados obtidos. Com o aporte da cultura oral documentada em entrevistas e o registro do local com a produção de imagens da plantação e da atual moradia da aldeia indígena Mbyá_Guarani, a dissertação foi desenvolvida em três capítulos, num total de 111 páginas, e discorreu sobre a Aldeia V’ya, A Organização Social e parentesco, A Identidade no Território, o Sistema Alimentar com suas Comidas e Alimentos, A Agricultura familiar Indígena, a Pesca, Caça e Coleta, A Mulher Mbyá e a Comida, e pôr fim a Organização do Espaço e Etnodesenvolvimento, além das considerações finais da autora e a lista de suas referências bibliográficas.

Com essa pesquisa nossa autora procurou identificar como os Mbyá-Guarani estão se alimentando agora, como se alimentavam em sua aldeia anterior e mais ainda, como era a alimentação Mbyá-Guarani desde sempre, para assim conseguir mapear todas as transformações ocorridas em seu sistema alimentar, e a relação comida-recursos vinculados ao ambiente, além da importância do papel feminino nesse processo de preparação dos alimentos, com suas crenças, rituais e percepções.
Procurou também investigar a reorganização do grupo após a mudança para esta nova aldeia, todos os impactos sociais e ambientais que estão relacionados a alimentação dos Mbyá-Guarani, procurando colaborar com futuras reflexões sobre identidade, sua afirmação e continuidade desse e de outros grupos.
Afirmou também a importância desses povos possuírem sua identidade e territórios próprios, pois de acordo com sua pesquisa com a criação do SPI ( Sistema de Proteção ao Índio),alguns povos indígenas como os Guaranis, Xokleng e Kaingang, ao passarem a viver juntos no mesmo território, passaram por grandes problemas de saúde, contraindo várias doenças uns dos outros, além da interferência alimentar , pois cada povo tem suas práticas e costumes, e quando estavam todos juntos houve uma grande influência de uns sobre os outros e isso fazia com que perdessem a sua própria identidade, e o pior é que com a proximidade das cidades, o açúcar e a aguardente também começou a fazer parte do seu dia-a-dia .
Por essas razões acima identificadas, é que nossa autora reconhece o desejo desse povo em retornar as suas origens procurando a “viver-do-mato”, plantando sua alimentação, criando seus animais, além dos que conseguem caçar nas matas, e pescando seu peixe nas águas que cortam suas terras, procurando depender o menos possível dos alimentos do “homem branco”.

Eu realmente reconheço a importância dessa pesquisa para a preservação dos povos indígenas, principalmente a importância deles terem seu próprio território procurando resgatar seu estilo de vida original, pois se eles continuarem a viver junto com o homem branco, acabará perdendo suas características, e um povo sem características próprias, deixam de existir.
No quesito alimentação, para os povos indígenas acredito que realmente é algo muito importante, pois se eles continuarem a viver junto ao homem branco e recebendo todas as nossas influencias, vão continuar se contaminando com nossas doenças que já foram causas de extermínios de grande povos indígenas, se tornarão dependentes de nossos medicamentos e se afastaram cada vez mais de suas raízes, já se batalharem para a recuperação de suas sementes, suas origens, além de estarem também colaborando conosco, ajudando-nos a preservar  nossas matas e nossos rios, estarão se fortalecendo quanto as suas origens, e poderão voltar a ser povos fortes e saudáveis como eram antes, pois o alimento natural sem veneno, sem agrotóxicos, esse sim serve não só de sustento, mais de remédio para as suas doenças, já o alimento industrializado, produzido pelo homem, ele perde suas características principais, suas fibras, grande quantidade de seus minerais, fazendo com que comamos apenas para matarmos a fome, e nos tornamos assim cada vez mais reféns dos remédios produzidos pelo homem.
Os povos Guaranis antigamente eram povos nômades, por isso em 1978, Clastres em seu livro Busca da Terra sem Males, nos apresenta um povo que andava de um local para outro, ficavam um tempo numa aldeia, plantavam, colhiam, pescavam, e depois de um tempo achavam que aquelas terras já não produziam o bastante e seguiam adiante em busca de uma Terra sem Males, hoje em dia sabemos que a terra não pode receber o mesmo cultivo várias vezes seguidas, pois isso faz com que aquela terra fique “fraca” ou melhor dizendo, aquela terra está fraca para este tipo de alimento, pois necessita sempre do mesmo nutriente, mais se plantarmos hoje milho, na próxima vez batata-doce, ou mamão ou banana e assim sucessivamente, vamos conservando todos os nutrientes daquela terra, e com isso os povos podem continuar a utilizar a terra e essa permanecerá boa e produtiva.
Para os povos Guaranis, a Mulher é um ser para a vida, por essa razão é que ela é a responsável pela alimentação da tribo, pois a mulher gera a vida dos filhos, e transforma os alimentos em comida, ao passo que o homem, é um ser para a morte, nasceu para lutar e para matar os animais durante a caça, entregando-os animais mortos nas mãos da mulher que vai transformar essa morte em vida através da comida pronta, é por isso que Pierre Clastres nos diz que “ Os homens são escravos da morte, eles invejam e temem as mulheres, pois são senhoras da vida” (apud Clastres,2004. P.216).

Essa resenha foi baseada na dissertação da Mestranda Vandreza Amante Gabriel, que a apresentou para a banca da Universidade Regional de Blumenau- FURB – em outubro de 2014.
Acadêmica: Sandra Regina Barbeiro
Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB
Centro de Ciências Humanas e da Comunicação
Graduação em Ciências Sociais - 5a. Fase
Disciplina: Etnologia Indígena
Professores: Marilda Rosa Galvão Checcucci Gonçalves da Silva / Juliano Gonçalves da Silva.












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