Gabriel, V.A, 2014. M’Byá-Guarani- Alimentação e Identidade
no Território: A Aldeia V’ya – Major Gercino(SC). Dissertação de Mestrado.
Universidade Regional de Blumenau- FURB- Programa de Pós Graduação em
Desenvolvimento Regional. Blumenau. Santa Catarina. Brasil.
Neste trabalho, a autora fez uma pesquisa junto à aldeia
V’ya, para entender melhor dois importantes momentos vividos por esta tribo, o
primeiro deles foi num momento vivido em um território que não lhes
proporcionava território próprio para o plantio e ou criação dos seus
alimentos, pois estavam inseridos em uma outra aldeia no Morro dos Cavalos, e
devido ao declive não conseguiam cultivar nada.
Num segundo momento, após a mudança para a aldeia V’ya (
Aldeia Feliz), na cidade de Major Gercino/SC, onde possuem um vasto território,
com condições de plantio e cultivo de seus alimentos naturais, além de caça e
pesca, o que lhes proporcionou a reconstrução de seu sistema alimentar, ou o “
viver do mato”, baseado nas memórias de seus habitantes mais idosos, e
principalmente de como suas mulheres se organizam em torno da alimentação, já
que são as responsáveis pela produção dos alimentos para a tribo, e que também
podem ajudar no plantio dos mesmos.
Essa
pesquisa teve como objetivo geral a alimentação dos Mbyá-Guarani, tudo o que ocorreu de mudança e o
que permanece até os dias de hoje em sua alimentação e tradições de práticas
alimentares, para isso a autora utilizou-se de uma abordagem etnográfica com
pesquisa de campo e várias técnicas de pesquisa como o uso de entrevistas,
notícias de jornais, observações, mapas, registros feitos pelo próprio grupo,
fotografias, vídeos, exame de documentos que digam respeito ao grupo, com
investigação sobre história de vida e história oral do grupo, cruzando-se os
resultados dos dados obtidos. Com o aporte da cultura oral documentada em
entrevistas e o registro do local com a produção de imagens da plantação e da
atual moradia da aldeia indígena Mbyá_Guarani, a dissertação foi desenvolvida
em três capítulos, num total de 111 páginas, e discorreu sobre a Aldeia V’ya, A
Organização Social e parentesco, A Identidade no Território, o Sistema Alimentar
com suas Comidas e Alimentos, A Agricultura familiar Indígena, a Pesca, Caça e
Coleta, A Mulher Mbyá e a Comida, e pôr fim a Organização do Espaço e
Etnodesenvolvimento, além das considerações finais da autora e a lista de suas
referências bibliográficas.
Com
essa pesquisa nossa autora procurou identificar como os Mbyá-Guarani estão se
alimentando agora, como se alimentavam em sua aldeia anterior e mais ainda,
como era a alimentação Mbyá-Guarani desde sempre, para assim conseguir mapear
todas as transformações ocorridas em seu sistema alimentar, e a relação
comida-recursos vinculados ao ambiente, além da importância do papel feminino
nesse processo de preparação dos alimentos, com suas crenças, rituais e
percepções.
Procurou
também investigar a reorganização do grupo após a mudança para esta nova
aldeia, todos os impactos sociais e ambientais que estão relacionados a
alimentação dos Mbyá-Guarani, procurando colaborar com futuras reflexões sobre
identidade, sua afirmação e continuidade desse e de outros grupos.
Afirmou
também a importância desses povos possuírem sua identidade e territórios
próprios, pois de acordo com sua pesquisa com a criação do SPI ( Sistema de
Proteção ao Índio),alguns povos indígenas como os Guaranis, Xokleng e Kaingang,
ao passarem a viver juntos no mesmo território, passaram por grandes problemas
de saúde, contraindo várias doenças uns dos outros, além da interferência
alimentar , pois cada povo tem suas práticas e costumes, e quando estavam todos
juntos houve uma grande influência de uns sobre os outros e isso fazia com que
perdessem a sua própria identidade, e o pior é que com a proximidade das
cidades, o açúcar e a aguardente também começou a fazer parte do seu dia-a-dia
.
Por
essas razões acima identificadas, é que nossa autora reconhece o desejo desse
povo em retornar as suas origens procurando a “viver-do-mato”, plantando sua
alimentação, criando seus animais, além dos que conseguem caçar nas matas, e
pescando seu peixe nas águas que cortam suas terras, procurando depender o
menos possível dos alimentos do “homem branco”.
Eu
realmente reconheço a importância dessa pesquisa para a preservação dos povos
indígenas, principalmente a importância deles terem seu próprio território
procurando resgatar seu estilo de vida original, pois se eles continuarem a
viver junto com o homem branco, acabará perdendo suas características, e um
povo sem características próprias, deixam de existir.
No
quesito alimentação, para os povos indígenas acredito que realmente é algo
muito importante, pois se eles continuarem a viver junto ao homem branco e
recebendo todas as nossas influencias, vão continuar se contaminando com nossas
doenças que já foram causas de extermínios de grande povos indígenas, se
tornarão dependentes de nossos medicamentos e se afastaram cada vez mais de
suas raízes, já se batalharem para a recuperação de suas sementes, suas
origens, além de estarem também colaborando conosco, ajudando-nos a
preservar nossas matas e nossos rios,
estarão se fortalecendo quanto as suas origens, e poderão voltar a ser povos
fortes e saudáveis como eram antes, pois o alimento natural sem veneno, sem
agrotóxicos, esse sim serve não só de sustento, mais de remédio para as suas
doenças, já o alimento industrializado, produzido pelo homem, ele perde suas características
principais, suas fibras, grande quantidade de seus minerais, fazendo com que
comamos apenas para matarmos a fome, e nos tornamos assim cada vez mais reféns
dos remédios produzidos pelo homem.
Os
povos Guaranis antigamente eram povos nômades, por isso em 1978, Clastres em
seu livro Busca da Terra sem Males, nos apresenta um povo que andava de um
local para outro, ficavam um tempo numa aldeia, plantavam, colhiam, pescavam, e
depois de um tempo achavam que aquelas terras já não produziam o bastante e
seguiam adiante em busca de uma Terra sem Males, hoje em dia sabemos que a
terra não pode receber o mesmo cultivo várias vezes seguidas, pois isso faz com
que aquela terra fique “fraca” ou melhor dizendo, aquela terra está fraca para
este tipo de alimento, pois necessita sempre do mesmo nutriente, mais se
plantarmos hoje milho, na próxima vez batata-doce, ou mamão ou banana e assim
sucessivamente, vamos conservando todos os nutrientes daquela terra, e com isso
os povos podem continuar a utilizar a terra e essa permanecerá boa e produtiva.
Para
os povos Guaranis, a Mulher é um ser para a vida, por essa razão é que ela é a
responsável pela alimentação da tribo, pois a mulher gera a vida dos filhos, e
transforma os alimentos em comida, ao passo que o homem, é um ser para a morte,
nasceu para lutar e para matar os animais durante a caça, entregando-os animais
mortos nas mãos da mulher que vai transformar essa morte em vida através da
comida pronta, é por isso que Pierre Clastres nos diz que “ Os homens são escravos
da morte, eles invejam e temem as mulheres, pois são senhoras da vida” (apud
Clastres,2004. P.216).
Essa
resenha foi baseada na dissertação da Mestranda Vandreza Amante Gabriel, que a
apresentou para a banca da Universidade Regional de Blumenau- FURB – em outubro
de 2014.
Acadêmica:
Sandra Regina Barbeiro
Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB
Centro de Ciências Humanas e da
Comunicação
Graduação em Ciências Sociais - 5a.
Fase
Disciplina: Etnologia Indígena
Professores: Marilda Rosa Galvão Checcucci Gonçalves da Silva / Juliano
Gonçalves da Silva.
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