quinta-feira, 2 de julho de 2015

Resenha: Licenciaturas Interculturais Indígenas: Um panorama das Experiências no Brasil (2001-2013)

Para o desenvolvimento do trabalho, foi realizada uma Sistematização e análise de dados sobre as Licenciaturas Interculturais, partindo com o Prolind – Programa de Apoio à Educação Superior e Licenciaturas, um programa realizado pelo MEC numa iniciativa conjunta de duas secretarias, a Secretaria  de Educação a Distância, Alfabetização e Diversidade (SECAD) e a Secretaria de Ensino Superior (SESU), com o objetivo de fomentar programas de licenciatura interculturais voltados ao Ensino Superior Indígena.
        Seus editais foram divididos em três eixos, que praticamente trabalhavam com três povos indígenas: No Eixo I, tinha como foco a formação de professores indígenas do Alto Solimões; Já no Eixo II, se trabalhou a elaboração de propostas de cursos com a participação da comunidade a ser beneficiada, e foi selecionada a UFAM – Formação de professores Mura; UNEB – Projeto Universidade na Aldeia; UFGG – Projeto de Formação de Professores Indígenas; UEL – Diagnóstico Socioeducacional das Populações  Indígenas do Paraná para formação de professores kaingang e guarani.
No Eixo III, foi à contemplação do apoio a permanência de estudantes indígenas, aplicado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UFT – Universidade do Tocantins e a UEMS – Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul.
Para a realização deste panorama, além dos dados sistematizados na coletânea de Paladino e Almeida (2012), também foram utilizados dados fornecidos pelo MEC, dados do levantamento de Weber (2007), do levantamento realizado pelo LACED (Cajueiro, 2010) e também do blog http://ensinosuperiorindigena.wordpress.com, desenvolvido por estudantes da USP.

Percebemos que há diferenças nos dados apresentados entre 2007, 2010 e 2012, com outras instituições promovendo cursos de licenciaturas indígenas que não aparecem nos quadros anteriores.
Primeiramente Weber destaca alguns projetos de cursos ainda não formalizados (UFSC e UFPE) e não evidencia a experiência da USP. Já a UCDB, não aparece nos dados do MEC, pois não recebeu recursos Prolind, entretanto o curso em parceria com a UFGD continua regular nesta ultima. E assim tantos outros dados documentos, discrepam por não constar este ou aquele dado, desta ou daquela instituição.
        Faz-se necessário, além de listar as instituições que apresentam licenciaturas indígenas, a obtenção de informações mais detalhadas sobre o funcionamento dessas ações e dos cursos de licenciatura intercultural.
Para composição do relatório acima referido, as pesquisas sobre cada instituição de Ensino Superior que sedia Licenciaturas Indígenas em seu campi, foi realizada com a obtenção de dados coletados aos poucos e em lugares distintos.
A troca de informações em seminários foi muito produtiva e essencial para a atualização e compartilhamento das diversas experiências.
Além do relatório sobre as experiências das licenciaturas interculturais no Brasil (2001-2013), também agrego a este capitulo um esforço de sistematização de alguns dados relativos aos cursos de Licenciaturas Interculturais Indígenas no Brasil.
Para dar prosseguimento à sistematização dos cursos de Licenciaturas Interculturais Indígenas, as contribuições de Adir Nascimento (2010) são centrais. A autora realiza uma sistematização e análise dos projetos Políticos Pedagógicos dos cursos destas Licenciaturas. São cursos baseados em experiências já vividas decorrentes dos cursos em nível de ensino médio para formação de professores como os Magistérios Indígenas.
        As experiências dos cursos destacam a presença constante de rezadores, xamãs, sábios, velhos e lideranças não apenas nos processos de construção dos cursos, mas no cotidiano dos mesmos, ministrando aulas e palestras. Todavia, um obstáculo constante, tem a ver com a dificuldade de legitimar e viabilizar a efetivação destes atores no quadro docente, pois não há uma regulamentação que sustente a prestação destes serviços.
A educação intercultural, não deve apontar somente para um diálogo entre conhecimentos, mas para uma ruptura com o modelo de conhecimento da modernidade ocidental, assim como trazer à tona a temática do poder que permeia todas as relações, que não destaque apenas a diferença, mas a desigualdade social em que estão submetidas essas populações.
 Com relação aos critérios para inscrição no vestibular, as experiências apresentam dois elementos comuns: ser professor da escola indígena e a homologação da comunidade /liderança para a inscrição, além do Ensino Médio completo. Na maioria dos casos, passam por entrevista e prova escrita que atestam a proficiência na língua indígena.
 O objetivo central dos cursos de licenciaturas interculturais indígenas, em destaque no edital Prolind, reside em formar professores indígenas para atuar em escolas indígenas no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.
Para finalizar, gostaria de ressaltar que o intuito deste capítulo, é organizar um panorama das diversas experiências no Brasil, valorizando a atualização dos dados assim como das fontes.
Penso que estamos iniciando uma caminhada para estabelecimento de redes de compartilhamento e troca de informações sobre algo insipiente no Brasil – o ensino superior para indígenas.



Referência: MELO, Clarissa da Rocha. Da universidade à casa de rezas Guarani e Vice Versa: Reflexões sobre a presença indígena no ensino superior a partir da experiência dos Guarani na licenciatura intercultural indígena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário