Guilherme Augusto Hilário Lopes[1]
Este
trabalho é resultado da pesquisa elaborada durante doutorado da professora
Maria Dorothea Post Darella[2]. Neste a
pesquisadora buscou compreender a relação entre território, cosmologia,
mitologia, história, cultura e sociedade na concepção dos Guarani. O espaço de
delimitação da pesquisa se dá no litoral catarinense através dos aldeamentos.
Darella
inicialmente fez um levantamento teórico acerca dos Guarani no que tange sua
cultura e seu processo de deslocamento pelo continente sul americano. Por meio
deste evidenciou que os Guarani Mbya,
possuem um estreita relação com a região do litoral catarinense e que possuem
vários aldeamentos dos Mbya em países
como Brasil, Argentina e Paraguai.
Durante o
processo histórico, essa população se deslocou da ilha de Santa Catarina e se
estabeleceu em várias cidades litorâneas entre os anos de 1960 a 1980.
A
problemática acerca da população que residia na região próxima ao mar veio à
tona com a duplicação da BR 101. Para realizar a duplicação foi necessária a
realização e demarcação das terras indígenas.
É inegável
que o processo de duplicação possui em si interesses econômicos e políticos e
que estes não estão nem um pouco preocupados com a situação dos silvícolas que
residem nessa região. Na visão do indígena, os brancos sangram a terra, ferem e
desrespeitam a natureza.
Levantamentos
realizados durante de outubro de 2003 por Darella constatou que existe um total
de 18 aldeamentos localizados nas cidades de Araquari, Barra do Sul, Biguaçu,
Garuva, Guaramirim, Palhoça, Balneário Piçarras, São Francisco do Sul e Imaruí.
A população nessas aldeias é de cerca de 799 indígenas.
A região da duplicação da BR
101 compreende uma extensão territorial de 465 km que passam pela região
litorânea dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Nesse
sentido, parte dos indígenas residentes nessas regiões, durante a duplicação,
se deslocaram para outras regiões do país e para cidade de Missiones,
situada no país da Argentina.
A relação dos Guarani Mbya com a terra se estende além da
questão do uso ou não da terra, mas a relação entre os indígenas e o meio onde
vivem se justifica pelo seu contexto histórico e cultural: a cosmologia,
cosmovisão e a mitologia estão intrinsecamente ligadas pela tradição e pela
crença que ligam o povo a determinada região. Isso é justificado pelos anciões que
falam da importância do mar como uma forte energética e espiritual para os
indígenas.
Para os Mbya, segundo Darella (2004) o mar possui um papel central na
representação da imortalidade, representa a possibilidade de transcendentalidade
do espirito humano e a existência de uma terra ultramar sem mal; nesse sentido,
o mal separaria as terras que possuem o mal das terras que possuem o bem.
Isso reside no imaginário do
Guarani. Entretanto, a cosmovisão dos Guarani não são as mesmas do homem
branco. O valor da terra para Guarani está além da sua condição humana, faz
parte da ontologia deste povo.
Concluindo, o referido
artigo traz à luz questões pertinentes ao poder público e aos organismos
responsáveis pela questão indígena referente a políticas públicas que venham de
encontro com a necessidade desta população. Explicita que o interesse dos
indígenas e do homem branco moderno são antagônicos e que os povos originários
acabam sofrendo com a lógica presente na sociedade atual.
REFERÊNCIA:
DARELLA,
Maria Dorothea Post. Territorialidade e
Territorialização Guarani no Litoral de Santa Catarina. Tellus, Campo Grande - MS, v. 4, n.6, p.
79-110, 2004.
Como citar esse texto:
LOPES, Guilherme Augusto Hilário. Territorialidade e Territorialização Guarani no Litoral de Santa Catarina: Uma análise breve da relação do silvícola com a terra. Estudos e Pesquisas Guarani no Vale do Itajaí. 2015. Disponível em: <https://estudosguaranidovaledoitajai.blogspot.com/2015/07/territorialidade-e-territorializacao.html>. Acessado em: dia, mês, ano.
[1] Historiador e Cientista Social mestrando em Desenvolvimento Regional na Universidade
Regional de Blumenau FURB. E-mail: guilherme.kxopa@hotmail.com.
[2] Possui doutorado em Ciências Sociais-Antropologia pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e atual como professora na
Universidade Federal de Santa Catarina UFSC.
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