JAQUELINE DE SOUZA DA COSTA
A AMARGA HISTÓRIA DO DOCE AÇUCAR
A
tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Antropologia
social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por Mártin César Tempass,
nos trás um estudo sobre a produção e o consumo de alimentos entre os Mbyá
Guarani. Partindo da construção que o sabor doce é muito importante para os
seres humanos, este trabalho objetivou realizar uma análise antropológica entre
os Guarani, enfatizando os seus sabores doces e os sentidos a eles atribuídos.
A humanidade tem um apreço pelo sabor
doce, a historia contada até na bíblia relata fatos sobre o doce e suas
consequências para a humanidade. Muitas coisas foram trocadas, inclusive vidas pela
sensação prazerosa de determinados sabores. Neste contexto o autor busca
explicitar essa relação do ser humano com o doce e portanto a influencia
indígena na doçaria nacional. Assim o
fio condutor deste trabalho é o alimento açúcar, que é mais conhecido e
difundido.
A história nos conta a luta dos seres
humanos pelo alimento, que antes era feita através da caça e da pesca e depois
conseguindo aperfeiçoar a prática do plantio que lhes seria útil para se ter
uma estabilidade. A expansão da
humanidade se deve a agricultura e a técnica do cozimento, fazendo com que a humanidade pudesse povoar mais regiões até
então não alcançadas. Em outras palavras a expansão da humanidade se deve às transformações alimentares.
O gosto alimentar é uma construção feita durante toda a vida, isso
significa que a predileção nata pelo doce pode ser alterada, ampliada ou
reduzida conforme as experiências alimentares de cada individuo. O fato é que
mesmo não gostando mais, todo ser humano já gostou do doce uma vez na vida.
O sabor doce está presente um uma incontável serie de espécies que
servem alimento para o ser humano. Desde o leite materno até as frutas e
legumes. Mas dentre todos os alimentos
existem dois que se sobressaem apresentando os mais elevados teores de doçura:
O mel e ao açúcar. Em todas as sociedades tanto a abelha como o mel simbolizam
coisas boas, valorosas e apreciáveis. Em muitas a abelha é associada como
símbolo de validez, coragem, trabalho e da soberania. E o mel é associado como
sagrado.
O mel era também consumido como forma
medicinal, no Egito antigo, por exemplo, era tido como um remédio vulnerável,
laxativo, diurético e anticatarral.
Assim o mel reinou como alimento mais doce e por isso mais apreciado até
o surgimento do açúcar. A cana de açúcar é uma especiaria que tem sua produção
e consumo por todo o planeta. Sendo apreciada por quase todas as culturas e
classes sociais. A mais antiga noticia que se tem do açúcar é do tempo de
companheiros de Alexandre Magno, em 327 A. C. quando de sua expedição à Índia.
No Brasil os dados sobre a produção e
os primeiros engenhos são divergentes, a primeira noticia sobre a plantação é
de 1516, sob as ordens de Dom Manuel. Mas o primeiro engenho só se deu em 1532,
construído por Martin Afonso de Sousa da capitania de São Vicente. Embora com
divergências se sabe que o açúcar se expandiu rapidamente sendo em menos de um
século um produto mundial.
Existem muitas publicações que, aqui,
e ali apresentam vários dados sobre a alimentação indígena. As mais destacadas
apresentam como alimentações de selvagens. De como comiam antes do
descobrimento dos colonizadores. São relatos de profundo espanto estranheza e
ate preconceito. Há também muitas pesquisas sobre a alimentação dos brasileiros
( colonizadores e escravos). Mas de fato não é fácil de se encontrar uma
análise de ambos aspectos: tanto a alimentação de indígenas e colonizadores.
Os Mbyá-Guarani, obtêm e consomem seus alimentos de forma coletiva. Os
alimentos são obtidos através da divisão de tarefas de produção e preparação
dos alimentos. Tem-se assim o que chama Jack Goody (1995), unidades de comida.
Essas unidades de comida são facilmente identificadas, pois em cada uma delas
existe apenas um fogo onde são preparados os alimentos.
A cana de açúcar já se tornou um alimento
que é considerado tradicional entre os Guarani. Mas é a cana de cacho variedade
verdadeiramente tradicional de sua etnia. Ela tem gosto e modo de consumo muito
parecido com a cana de açúcar. Os alimentos tradicionais dos Mbyá-guarani, são
predominantemente doces. Os fritos criados e cultivados pelos seus deuses são
os “mais doces do mundo”. O sabor doce
provoca o comportamento doce e vice versa. O doce sendo gestos ou palavras é
componente fundamental de se viver. Assim os Mbyá-Guarani são doces e consomem
sabores doces o sabor define o comportamento doce.
Porem como sabemos este doce vem sendo ameaçada pela amargura da
sociedade envolvente, tanto no sentido nutricional como no sentido
comportamental. Afinal um define o outro. A sociedade ocupou o território
Guarani e assim afetou a produção de seus alimentos. Sem suas terras
tradicionais eles não conseguem praticar sua alimentação tradicional o que leva
a uma desarmonia de suas origens. Os
Mbyá-Guarani sempre foram adeptos do doce, que vem de longa data. Assim não
foram os colonizadores que ensinaram aos
indígenas a arte do doce, os indígenas já apreciavam este sabor e produziam em
larga escala.
REFERENCIA
TEMPASS, Mártin César. QUANTO MAIS DOCE, MELHOR: Um estudo antropológico das práticas
alimentares da doce sociedade Mbyá-Guarani. UFRGS. 2010
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