quinta-feira, 9 de julho de 2015

QUANTO MAIS DOCE, MELHOR. Um estudo antropológico das práticas alimentares da doce sociedade Mbyá-Guarani.

JAQUELINE DE SOUZA DA COSTA 

A AMARGA HISTÓRIA DO DOCE AÇUCAR

      A tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Antropologia social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por Mártin César Tempass, nos trás um estudo sobre a produção e o consumo de alimentos entre os Mbyá Guarani. Partindo da construção que o sabor doce é muito importante para os seres humanos, este trabalho objetivou realizar uma análise antropológica entre os Guarani, enfatizando os seus sabores doces e os sentidos a eles atribuídos.  
         A humanidade tem um apreço pelo sabor doce, a historia contada até na bíblia relata fatos sobre o doce e suas consequências para a humanidade. Muitas coisas foram trocadas, inclusive vidas pela sensação prazerosa de determinados sabores. Neste contexto o autor busca explicitar essa relação do ser humano com o doce e portanto a influencia indígena na doçaria nacional.  Assim o fio condutor deste trabalho é o alimento açúcar, que é mais conhecido e difundido.
        A história nos conta a luta dos seres humanos pelo alimento, que antes era feita através da caça e da pesca e depois conseguindo aperfeiçoar a prática do plantio que lhes seria útil para se ter uma estabilidade.  A expansão da humanidade se deve a agricultura e a técnica do cozimento, fazendo com que  a humanidade pudesse povoar mais regiões até então não alcançadas. Em outras palavras a expansão da humanidade se deve  às transformações alimentares.
       O gosto alimentar é uma construção feita durante toda a vida, isso significa que a predileção nata pelo doce pode ser alterada, ampliada ou reduzida conforme as experiências alimentares de cada individuo. O fato é que mesmo não gostando mais, todo ser humano já gostou do doce uma vez na vida.
       O sabor doce está presente um uma incontável serie de espécies que servem alimento para o ser humano. Desde o leite materno até as frutas e legumes.  Mas dentre todos os alimentos existem dois que se sobressaem apresentando os mais elevados teores de doçura: O mel e ao açúcar. Em todas as sociedades tanto a abelha como o mel simbolizam coisas boas, valorosas e apreciáveis. Em muitas a abelha é associada como símbolo de validez, coragem, trabalho e da soberania. E o mel é associado como sagrado.
        O mel era também consumido como forma medicinal, no Egito antigo, por exemplo, era tido como um remédio vulnerável, laxativo, diurético e anticatarral.  Assim o mel reinou como alimento mais doce e por isso mais apreciado até o surgimento do açúcar. A cana de açúcar é uma especiaria que tem sua produção e consumo por todo o planeta. Sendo apreciada por quase todas as culturas e classes sociais. A mais antiga noticia que se tem do açúcar é do tempo de companheiros de Alexandre Magno, em 327 A. C. quando de sua expedição à Índia.
         No Brasil os dados sobre a produção e os primeiros engenhos são divergentes, a primeira noticia sobre a plantação é de 1516, sob as ordens de Dom Manuel. Mas o primeiro engenho só se deu em 1532, construído por Martin Afonso de Sousa da capitania de São Vicente. Embora com divergências se sabe que o açúcar se expandiu rapidamente sendo em menos de um século um produto mundial.
         Existem muitas publicações que, aqui, e ali apresentam vários dados sobre a alimentação indígena. As mais destacadas apresentam como alimentações de selvagens. De como comiam antes do descobrimento dos colonizadores. São relatos de profundo espanto estranheza e ate preconceito. Há também muitas pesquisas sobre a alimentação dos brasileiros ( colonizadores e escravos). Mas de fato não é fácil de se encontrar uma análise de ambos aspectos: tanto a alimentação de indígenas e colonizadores.
       Os Mbyá-Guarani, obtêm e consomem seus alimentos de forma coletiva. Os alimentos são obtidos através da divisão de tarefas de produção e preparação dos alimentos. Tem-se assim o que chama Jack Goody (1995), unidades de comida. Essas unidades de comida são facilmente identificadas, pois em cada uma delas existe apenas um fogo onde são preparados os alimentos.
        A cana de açúcar já se tornou um alimento que é considerado tradicional entre os Guarani. Mas é a cana de cacho variedade verdadeiramente tradicional de sua etnia. Ela tem gosto e modo de consumo muito parecido com a cana de açúcar. Os alimentos tradicionais dos Mbyá-guarani, são predominantemente doces. Os fritos criados e cultivados pelos seus deuses são os “mais  doces do mundo”. O sabor doce provoca o comportamento doce e vice versa. O doce sendo gestos ou palavras é componente fundamental de se viver. Assim os Mbyá-Guarani são doces e consomem sabores doces o sabor define o comportamento doce.
      Porem como sabemos este doce vem sendo ameaçada pela amargura da sociedade envolvente, tanto no sentido nutricional como no sentido comportamental. Afinal um define o outro. A sociedade ocupou o território Guarani e assim afetou a produção de seus alimentos. Sem suas terras tradicionais eles não conseguem praticar sua alimentação tradicional o que leva a uma desarmonia  de suas origens. Os Mbyá-Guarani sempre foram adeptos do doce, que vem de longa data. Assim não foram os colonizadores que  ensinaram aos indígenas a arte do doce, os indígenas já apreciavam este sabor e produziam em larga escala.
      
REFERENCIA
TEMPASS, Mártin César. QUANTO MAIS DOCE, MELHOR: Um estudo antropológico das práticas alimentares da doce sociedade Mbyá-Guarani. UFRGS. 2010      

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